Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente
te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu
sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa
todos os dias. Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma
iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um
pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o
tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você,
que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me
deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranquila em nada, feliz em
nada. Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te
dizer: “Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te
tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase
consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é
só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma
hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase
consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu
nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue
ser inteiro… Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase
não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua
presença, eu quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto
de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.
Tati Bernardi