“Sempre que uma situação começa a ficar boa
ou simplesmente começa, solto minhas frasezinhas bombas. Não sei se com
isso quero realmente foder a minha vida ou me proteger de me foder. Acho
que segundos antes de explodir tudo, penso assim: se eu falar a frase
mais errada do mundo, só os realmente fortes sobreviverão. O que eu não
percebo é que no começo de alguma coisa, ninguém ainda é realmente forte
para agüentar minhas frasezinhas bombas. E todo mundo, sem exceção,
acaba correndo assustado. E no dia seguinte eu acordo com aquele misto
de vitória com tristeza. Sozinha novamente. Como se isso fosse um prêmio
mas também uma doença. Dentre as minhas frasezinhas bombas tenho três
prediletas “to morrendo de saudades de você”, “a vida sem amor é uma
merda” e “você me dá pouca atenção”. (…) É o jeito que arrumei de me
rebelar contra essa hipocrisia masculina. Eles podem dormir na casa da
gente, enfiar o pauzinho no meio das pernas da gente, pedir uma
torradinha com requeijão de manhã, mijar pra fora do nosso vaso, contar a
vida deles e pedir mais carinho nas costas. Mas não suportam ouvir no
dia seguinte um simples “gosto de você”. Covardes de merda. Odeio essa
hipocrisia masculina. Se eles falam mil vezes que querem te ver é tesão e
você não pode se assustar, mas se você falar uma única vez que quer
vê-los, é porque você é uma mala que está “misturando sentimentos”. E
eles podem se assustar. Que preguiça desse planetinha dos macacos e suas
bananas. E sigo com minhas frases matadoras. “Pensei em você hoje”;
“Voltei antes pra te ver”; “Vamos nos ver hoje?”; “Vamos comigo na festa
da minha amiga?”; “O que você vai fazer no feriado?” E tenho cada dia
mais nojo de como frases ditas pra ser agradável soam como um
assassinato. E tenho nojo de pensar que quando você tira o controle
deles, eles não sabem mais o que fazer com você. “O que eu vou fazer com
uma mulher que eu já conquistei?” Que tal continuar conquistando todos
os dias, seu idiota? Que tal viver uma história que passe da primeira
página? Tenho cada dia mais nojo de como as pessoas se consomem e não se
conhecem, não vivem nada. Não sabem nada da vida da outra a não ser o
tamanho dos peitos e se o desenho dos pêlos é mais para Claudia Ohana ou
bigodinho do Hitler. Sempre lembro de uma vez que fui passar cinco dias
com um namorado no alto de uma montanha e ele me apareceu com um
verdadeiro “kit putaria”. Passou antes no sex shop e comprou de óleo de
massagem a roupinha de enfermeira. Tenho certeza que fez isso porque
pensou “que porra vou fazer com uma mulher cinco dias em cima de uma
montanha a não se trepar”? Se fosse algum dos seus amiguinhos eles
poderiam rir, se divertir, beber, conversar, apostar corrida, jogar
videogame, brincar na piscina, fazer trilha. Mas com uma mulher? Um ser
estranho chamado mulher? Que porra ele iria fazer não é mesmo? Homens
acham que a página 1 é trepar e a página 2 é casar. E como têm pavor da 2
(e quem disse que as mulheres também não têm?) acabam nunca saindo da
1. E nisso conversas incríveis, descobertas maravilhosas e histórias
lindas morrem antes mesmo de nascer. Eles podem te comer mas jamais
passear de mãos dadas com você.Isso tudo me dá um bode profundo. Mas no
fundo tenho mais bode é de mim. Por ter dito frases desse tipo para
pessoas sem nenhuma magia, sem nenhuma poesia. E que ao invés de
enxergar beleza enxergaram “carne ganha”. E no fundo eu nem sentia nada
por essas pessoas, estava apenas testando a hipocrisia do mundo. Estava
apenas comprovando que se tratava apenas de mais uma “carne podre”. (…)
Da onde eles tiram que somos tão assustadoras? A gente só quer ter com
quem rir no final do dia e ganhar alguns beijos no lugar certo. Nada
muito diferente do que eles querem.Mas cansei. Definitivamente cansei.
Cansei de um mero “nossa, tava pensando em você” equivaler a um “nossa,
tava pensando em você de terno e gravata no altar de uma igreja”. Já que
pouca coisa assusta tanto, decidi que agora vou jogar pesado. Daqui pra
frente minhas frases matadoras vão ser de “quero ter um filho seu” pra
pior. Quem quiser sair comigo vai ter de ouvir “posso dormir aqui?” ou
ainda “acho que posso me apaixonar por você”.E quem sobreviver a esse
verdadeiro extermínio de pretendentes, vai descobrir que eu sou só mais
um ser que morre de medo do amor e da convivência. (…) Mas de verdade (e
dessa vez sem medo de assustar ninguém) adoraria encontrar alguém que
resolvesse correr esse risco junto comigo.”
Tati Bernardi.