“Eu quase consegui abraçar alguém semana passada.
Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito
esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra
frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo.
Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca
que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no
meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você.
E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por
mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso.
O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo
me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me
lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o
tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e
tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que
passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. Chorar deixou
de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de
ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar,
incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele
pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais
um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em
nada, plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada. Todos os dias eu
quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer
conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí
quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma
ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um
restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser,
vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar
exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido
inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro. Eu
quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela
foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu
quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto de mim que
sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.”
Tati Bernardi